sábado, 22 de maio de 2010

Perdi

Queria algo mais sucinto,
puro,
eclético,
e abundante

Não achei.
Talvez seja isso
não achar,
me achar

Procuro não ver,
procuro sentir
te procuro.
Me procuro

Aquele som,
aquela alma,
aquele pecado,
aquele cheiro...

Confusões,
indefinições
ações
Tudo corações

Desabafo
espaço,
loucura
e santidade

Amor
Pirei,
ardor
chorei

Temor,
sorri
frescor,
corri.


e perdi o juízo...

domingo, 16 de maio de 2010

O Saxofone


Era muito talentoso. Porém tivera uma má sorte na vida. Era preto. Retinto, reluzente. Quase azul.Desde criança estava acostumado a crer na sua falta de futuro. Cansara de ser feito pouco, de ouvir presopopéias a seu respeito. Ardia em vontade de melhora, mas nem a família acreditava em sua ascensão. Bisneto de escravos, filho de alforriado salvo pela lei da princesa, em 1888, sentia as vezes que seu destino era aquele mesmo, ser considerado indiferente.
Quando criança, divagando pelas ruas da cidade de Ouro Preto, onde morava desde a alforria de seu pai, passou em frente ao botequim do seu Manuel, e lá, entre damas e cavalheiros, todos ébrios, em plena algazarra de uma sexta-feira a noite, ouvira um som que muito lhe prendeu, e fascinou. Tentou encontrá-lo em meio as pernas, mas foi chutado para fora, como se fosse um inseto imundo:
- Aqui não é lugar para esmolar, seu moleque!
 A frase pareceu não o atingir, de tanto que estava vidrado ao som que vinha lá de dentro, permaneceu estático, bitolado a escutar. Sentou-se no passeio, em meio a rua esculpida de pedra-sabão. Ali permaneceu horas, a ouvir aquela melodia, que lhe acalentava os anseios.
O dia daqueles ali presentes, provavelmente terminaria em algum cabaret. Coisa que Antonio repugnava, já vira a mãe um vez saindo de um local como este, escorando um beberrão qualquer. Mas esta era a rotina dela desde que seu pai morrera, e sem condições, ela tentava sustentar os filhos. Era o quarto, penúltimo.
Não ia a escola. Não permitiam negros. Trabalhava junto ao irmão mais velho, iam todo dia ao Riacho, levando a bateia, para a lavagem do cascalho, a procura de algum vestígio de ouro. Raras eram as vezes que encontravam, não desistiam.
Antonio passou a ir todas as noites á rua Das Merces, e ali parava em frente ao botequim para escutar aquele som que tanto o encantava.
Certa noite, resolveu então esperar, queria saber de onde saía aquela melodia.
Adormeceu na calçada, e acordou com o barulho de seu Manuel fechando o estabelecimento. Junto a ele estava um senhor, já avançado na idade, com um bigode extenso e cinza, carregando uma maleta preta. O garoto pulou, assustara-se, não sabia como agir, como descobrir se era aquele o dono do som. Permaneceu atordoado, a olhar o humilde senhor. 
Este, ao ver o espanto do menino, sorriu, um sorriso aberto, reconfortante.
- Se não é o filho da Maria, do Cabaret Le Branc!
- Se é, toda a noite vem, a procura de esmola! Toma tento, preto! Vai procurar trabalho!
-O Manuel, não fale assim com o menino, ainda é uma criança, não tem más intenções...
-Você e seu bom coração José, não vê maldade no mundo. Só quer saber deste saxofone e de meia dúzia de raparigas!
Eles riram alto.
Antonio permanecia mudo, e estatelado. Ouvira pela primeira vez aquele nome, saxofone. Se perguntava se dali sairia o som. Queria reagir, conversar com o homem, mas não conseguia... Virou-se e correu em disparada, envergonhado, com medo.
A partir dai, estava lá todas a noites, sentado, ansioso, a ouvir. Sonhava fazer o mesmo.
Passou a dialogar com o homem do bigode, que aos poucos percebeu o real interesse do moleque, e nele descobrira um grande amigo, o único amigo.
 Queria conhecer, tocar, sentir, carregar aquele instrumento... Desvendou nele uma paixão. Tomava lições todas as tardes com seu José, e se dedicava por inteiro naqueles momentos que podia aproveitar ao lado dele. Ainda o estranhava, sentia como se o saxofone falasse por ele, soprava sentimentos, emoções, e ele os reproduzia, para que todos pudessem ouvir.
O garoto levava jeito, aprendeu rápido o manuseio, e passou a acompanhar o homem de bigodes nas noitadas á Rua das Merces. Seu José, cada dia mais penoso com a idade, ia dando sinais de que não levaria a carreira por muito.
Em uma quarta-feira, antes de iniciar o movimento noturno, chamou Antonio e disse:
-Meu filho, saiba que tenho muito apreço por ti, e que já não duro muito. Fiz ontem meu testamento, e nele, deixo meu único bem para você...
-Pare de lorota, José, está ainda na flor da idade, tem muito o que viver e tocar... Deixe lá..
-Não estou de prosa, Antonio. O saxofone já é teu!
Os primeiros convivas já começavam a chegar, e aquela conversa findou por ali.
Alguns meses depois, em uma noite chuvosa e barulhenta, um menino de recados bateu a porta da casa de dona Maria, trazia um bilhete de seu Manuel,o qual comunicava o repentino falecimento de José. Morrera do coração, subitamente. O velório se daria na manha do dia seguinte, na residência do mesmo.
Antonio não dormiria mais aquela madrugada, perdera o único amigo, o mestre, seu grande professor na vida. Este, de bom coração deixara para ele a sua paixão, e o seu ganha-pão, que lhe permitiu depois de adulto, constituir uma família...
Tudo aconteceu por um devaneio, pelo fato de gostar de andar sem rumo pelo centro da cidade quando moleque...
Antonio, preto, retinto, reluzente, passou a ser reconhecido pela sua musica, não se deixou ser indiferente, fez o seu destino.
Só não sabe da onde seu José conhecia Maria... E nem o porque da semelhança entre o mestre e o aprendiz, que todos diziam ter e que se unia a paixão dos dois pelo saxofone...

Agora

O coração tá mais calmo, agora;
Precisava era de um excesso, de você;
não quis te deixar, ir embora;
bateu de novo o medo, de te perder;

Hoje eu mais, para a certeza;
aquela velha, de que eu amo você;
Esqueci do mundo, esqueci de tudo;
Pensando só, em te ter...



6 de Abril de 2010

sábado, 8 de maio de 2010

Relutante

Relutante,
levantava todos os dias,
se perguntando,
por que não havera de ter nascido cachorro?

Se lavava
se vestia,
e pensava,
por que não nascera um pássaro?

Alimentava-se
e saia,
se questionando,
por que não era um armário?

Resistia,
não sonhava,
não sorria
Não amava

Deixara para trás
a chamada alma,
sorrateiro,
se despedia

Da famosa vida,
que não conhecia
Que não vivia

Relutante,
ele se perdia...

domingo, 2 de maio de 2010

Ser

Anseio ser eu.
No meu mais puro entendimento, em uma transparência cristalina, direta, pura;
Não preciso de sentido, nem de verdade, quero o que der, quero o que puder ser;
Quero poder sorrir com liberdade, ir sem hora para voltar e ter os mais completos sonhos;

Fazer alguém feliz, me fazer feliz...

Acordar com vontade de começar o dia, e ir dormir sem querer que ele acabe...
Sentir o coração bater mais forte, naquela disritmia que gera sensação de que há uma vida dentro do peito;

Sentir o vento.
Quero mais adrenalina, quero mais realizações, quero mais simplicidade...

Ainda que baixa, resplandece em mim uma força para lutar, para buscar, para vencer...
Um dia ela deixa de se submeter, explode, pira, pula, sai pra fora;

E eu,
chego lá...